Recursos extraordinários, como os provenientes do pagamento das cotas do PIS-Pasep, vão impulsionar o crescimento do varejo em 2018, assim como ocorreu no ano passado com as contas inativas do FGTS. O cálculo de economistas é que a injeção extra de renda possa gerar um aumento de entre 0,3% a 0,4% nas vendas.
Com o estímulo adicional e a perspectiva de uma retomada mais forte do emprego e do crédito a perspectiva é que o comércio tenha crescimento na casa dos 4,5% em 2018, no conceito restrito (que não considera veículos e material de construção). Para especialistas, o setor pode se beneficiar inclusive da corrida eleitoral, uma vez que tradicionalmente os governos colocam mais dinheiro na praça em anos de eleições.
O economista do banco Santander, Rodolfo Margato, calcula um impacto anual de 0,4% no consumo das famílias por conta do dinheiro que será injetado na economia com o pagamento das cotas do PIS e do Pasep. O banco mediu primeiro o impacto que os recursos teriam na massa salarial ampliada disponível, de 0,7%, para depois estimar quanto do montante iria efetivamente para o consumo.
“Jogamos esse aumento da renda em um modelo econométrico, que relaciona os dados com o PIB das famílias, e com base nisso chegamos em um impacto sobre o consumo de 0,4% ao longo dos próximos meses”, explica. Para realizar o cálculo, assumiu-se a premissa que todo o recurso disponível seria sacado pelos brasileiros.
Segundo informações do Ministério do Planejamento, o potencial total de injeção de recursos com a medida é de R$ 21,4 bilhões, dos quais apenas R$ 2,58 bilhões já tinham sido sacados até o dia 21 de janeiro. Os valores estão disponíveis para 11,2 milhões de brasileiros até meados de 2018 e no final do mês passado 1,9 milhão já tinham feito os saques.
Para o chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, o pagamento das cotas dos dois programas, disponíveis para brasileiros com mais de 60 anos, podem gerar um impacto no consumo, em termos relativos, até maior que o das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Trabalho (FGTS). Isso porque o brasileiro está menos endividado hoje do que na época em que os recursos do FGTS foram liberados.
“Como o endividamento do brasileiro e os juros caíram, acredito que o efeito do PIS e do Pasep sobre o varejo, em termos relativos (de taxas), tende a ser proporcionalmente maior, já que será possível destinar uma parcela superior para o consumo”, diz.
Em termos absolutos, no entanto, o potencial da medida é muito menor, já que o recurso dos dois programas representa metade do que foi liberado com as contas inativas do FGTS no ano passado (R$ 44 bilhões). Na época, a CNC calculou que 25% do montante, ou cerca de R$ 10,8 bilhões, foram usados no varejo.
Em relação ao abono salarial do Pis e do Pasep, Bentes projeta que a renda extra de R$ 21,4 bilhões gere um aumento de 0,3% nas vendas do comércio. No ano passado, as contas inativas responderam por 0,6% do crescimento.
Eleição geral
Para alguns especialistas, outro fator que pode injetar recursos extraordinários na economia, contribuindo para o crescimento do volume de vendas do varejo, é a eleição geral. O diretor vogal do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Nuno Fouto, acredita que deve haver uma liberação maior de recursos do governo – por exemplo, para obras –, como ocorre historicamente em anos eleitorais. O impacto, entretanto, será menor que em eleições passadas.
“O governo, na negociação com o congresso, libera mais dinheiro para obras locais em anos de eleição e isso resulta em uma renda extra nos locais onde as obras são feitas. Mas não dá para dizer que vai ser um impacto semelhante ao que vimos em eleições anteriores”, afirma.
A expectativa é menor este ano, segundo o economista do Santander, principalmente por conta do imbróglio fiscal que existe e que inibi maiores desembolsos públicos. “Em ano eleitoral tendemos a observar esse fenômeno, mas isso não parece tão claro este ano por todo o imbróglio fiscal. Pode haver um desembolso maior, mas longe de ser um determinante para o crescimento do consumo das famílias”, afirma Margato.
O economista chefe da CNC acrescenta que há ainda um possível impacto negativo em termos de investimentos. Enquanto a eleição geral de fato pode gerar um aumento do consumo no curto prazo, as incertezas inibem os aportes dos empresários, gerando inclusive o risco de um reflexo no aumento da inflação. “Se o crescimento da demanda não vem junto com o da oferta (através de investimentos), isso pode gerar um aumento dos preços”, diz.
Melhora na economia
Ainda que os recursos extras injetados na economia, principalmente com o pagamento das cotas do PIS-Pasep, gerem um impulso para o crescimento do comércio, os principais fatores que justificam a expectativa de uma expansão na ordem de 4,5% para o período estão ligados a melhora de indicadores.
O presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, destaca que há uma conjunção de aspectos favoráveis para o setor: “o desemprego está caindo; o crédito voltando em volume, prazos e taxas (ou seja, está mais abundante, com prazos mais longos e taxas mais baratas); a renda está mais preservada com a inflação baixa; e a confiança dos consumidores tem melhorado de forma consistente.”
Dos quatro fatores citados pelo especialista, Bentes, da CNC, acredita que o principal motor para o crescimento do setor este ano será a queda da taxa básica de juros, que já começa a ser sentida na ponta. “A bola da vez vai ser a queda dos juros”, afirma. Ele acrescenta que sempre há uma defasagem entre a redução da Selic e das taxas na ponta, que tendem a demorar para recuar, mas que já se percebe uma queda. “A taxa média tem caído e está abaixo de 60%, sendo que há um ano estava em 78%. Em 2018, a tendência é que essa taxa média dos juros recue ainda mais”, afirma.
Na prática, a redução dos juros cobrados pelos bancos e instituições financeiras torna a prestação de qualquer valor tomado pelos consumidos mais barata, o que gera um estímulo para o consumo, principalmente de produtos com maior valor agregado – como eletrodomésticos e material de construção.
Margato, do Santander, também acredita em um cenário mais favorável para o setor varejista este ano e finaliza com uma projeção: “2018 deve ser um ano de consolidação da recuperação da economia brasileira e a força motriz desse processo será o consumo das famílias.”
Pedro Arbex – DCI
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