A taxa básica dos juros (Selic) foi mantida em 14,25% por decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), vinculado ao Banco Central (BC), nesta quarta-feira (2). Analistas esperam que a manutenção permaneça até fim do ano com o objetivo de controlar a inflação.
Com a manutenção, Selic se mantém inalterada desde julho de 2015 com o mesmo percentual de outubro de 2006. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação oficial sob controle, baseando-se no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A meta é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos, podendo chegar a 6,5%. Contudo, o IBGE indica que o IPCA acumulou 10,71% nos 12 meses terminados em janeiro, sendo então a maior taxa registrada desde outubro de 2003.
Em comunicado oficial, o Copom justificou a manutenção com o argumento de incertezas em relação à economia global. “Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos e considerando as incertezas domésticas e principalmente externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% ao ano, sem viés”, destacou o texto.
Entenda a influência da Selic
Ao elevar a taxa básica de juros, o Banco Central controla a produção e o consumo em excesso, que impacta no aumento dos preços. Juros mais altos tornam o crédito mais caro e faz com que dinheiro seja poupado.
Já ao reduzir, o crédito fica mais barato e a produção e o consumo aumentam, são estimulados. E devido ao encarecimento, descontrola a inflação.
CNI e Firjan cobram rigor com o ajuste fiscal
“Os juros básicos da economia só poderão começar a cair se o governo cortar gastos”, informou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em comunicado. A decisão não surpreendeu o órgão que cobra rigor com o ajuste fiscal, para que juros e inflação passem a cair.
Para a CNI, redução da taxa básica de juros se justificaria durante o período de recessão porque, em tese, reduziria a demanda e as pessoas consumiriam menos.
Porem, a decisão de manter a Selic inalterada foi tomada por uma cautela do Banco Central graças a inflação distante do centro da meta – de 4,5% para este ano – e persistente.
Além do ajuste fiscal, a CNI cobra reformas estruturais. “A redução dos juros depende de reformas estruturais e de um ajuste fiscal efetivo, que restabeleça a confiança dos agentes econômicos e afaste o risco de uma trajetória crescente e insustentável da dívida pública brasileira, abrindo caminho para a reorganização da economia e à retomada do crescimento”, fechou o comunicado.
Sintonizada com a CNI, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) divulgou nota considerando a decisão do BC como “esperada” e pedindo um plano fiscal que gere aumento do superávit primário. Um dos apontamentos feitos é que a taxa de juros não seria o instrumento adequado para controlar a inflação.
“Prova disso é que o nível de preços está em ascensão, muito acima da meta estabelecida e no maior patamar em mais de dez anos, mesmo após a taxa Selic ter praticamente dobrado. Por isso, o Sistema Firjan defende de forma incansável um plano fiscal de longo prazo que signifique aumento do superávit primário, via redução dos gastos públicos de natureza corrente. O Brasil não pode mais se furtar de atacar as questões estruturais. Com efeito, as velhas e necessárias reformas precisam ser postas em prática, a começar pela reforma fiscal”.
Sindicatos querem menos juros para melhor economia
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical reclamaram da manutenção, ainda na tarde de quarta-feira (2).
“Ao manter a taxa Selic, o governo penaliza o setor produtivo e a geração de empregos e renda. É uma decisão nefasta, baseada em uma política econômica equivocada, que acelera a economia em direção a um redemoinho de incertezas, penalizando os trabalhadores”, destacou a Força Sindical.
Já a CUT defende que a atual política de juros “prejudica a atividade econômica, deteriora o mercado de trabalho e a renda, aumenta o desemprego e diminui a capacidade de consumo das famílias”.
Para a Central, o atual cenário apenas aumentam o lucro dos banqueiros e quem vive de especulações, além de concentrar ainda mais a riqueza nas mãos da minoria.
“É urgente a redução drástica da taxa de juros para que a economia saia o mais breve possível da recessão, volte a gerar emprego e renda, e retome de forma consistente o caminho do desenvolvimento com distribuição de renda. A política econômica precisa estar a serviço do povo brasileiro.”
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